sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Il-il-il

Eu gosto do Brasil.
Do Brasil que ouve Cartola, Paulinho da Viola, João Gilberto e Clementina de Jesus. Do Brasil que cozinha acarajé, moqueca e feijoada. Eu gosto do Brasil que prefere o drible ao gol. Do Brasil que é caipira minimalista. Do Brasil que pede licença e limpa o pé antes de entrar. Eu gosto do Brasil que sorri. Do Brasil que respeita. Que dá lugar pra velhinha. Eu adoro o Brasil que se liga no mundo sem macaquice. Que varre a calçada, que pinta a fachada, que não pisa na grama. Eu gosto do Brasil que lê Machado de Assis, Graciliano Ramos e Clarice. Do Brasil que diz obrigado. Que segura a porta do elevador. Que abaixa o som se estiver incomodando. Do Brasil que questiona o que se diz na TV e nos Jornais.
Do Brasil que faz grafite. Do Brasil que ama cães e gatos. Do Brasil que se mistura.

Eu não gosto do Brasil.
Do Brasil que ultrapassa pelo acostamento. Que fura fila. Que não deixa entrar. Do Brasil que ouve sertanejo pop, pagode pop e música brega em geral. Do Brasil que se orgulha da própria ignorância. Eu detesto o Brasil que fala tudo no gerúndio. Que lava a calçada com mangueira. Que bota gergelim, tomate seco ou catupiry em tudo. Eu odeio o Brasil que ri de quem é honesto. Que vota no Collor, no ACM, no Maluf, no Roriz. Eu não gosto do Brasil que come de boca aberta. Que não sabe segurar a faca. Eu não gosto do Brasil que torce contra o sucesso dos amigos. Que joga lixo pela janela. Que joga lixo no rio. Que joga lixo no terreno baldio. Eu simplesmente odeio o Brasil que perpetua as desigualdades sociais, econômicas e educacionais. Que discrimina porque é pobre, gay, negro, gordo, velho ou feio. Que assiste a Luciana Gimenes, o Leão e o TV Fama.
Do Brasil que reduz para apreciar o acidente. Do Brasil que se acomoda.
Esse Brasil sim, eu odeio.

Um comentário:

Rodrigo Prior disse...

Mas é lendo textos desse tipo, que nos surge uma esperança por saber que ainda existem pessoas que acreditam que isso que se chama Brasil ainda tem jeito.

Assim como você, faço porque acredito. Encontro motivações para novos acertos e fujo das desculpas para evitar novos erros que, quase sempre, esbarram em conformismo e acomodação.

;-)