domingo, 15 de fevereiro de 2009

Quando a comunicação é falha

O ato de comunicar é valioso e pode ser destrutivo se feito erroneamente, ou de forma exagerada. Um exemplo é o caso da garota Eloá, de 15 anos, seqüestrada e morta pelo ex-namorado após dias de angústia no cativeiro. Será que se a mídia estivesse de fora, o caso teria outro desfecho? Provavelmente sim.

O que se percebe é que pela falta de conteúdo e programação que gera audiência às emissoras de televisão, leva às mesmas e seus jornalistas a abordarem certas notícias com tanto excesso que a ética cai abaixo para soberar o sensacionalismo.

Elas passam a brigar entre si para mostrar quem conseguiu entrevistar primeiro o conturbado Lindemberg, o comandante responsável do caso, ou então ter o melhor ângulo de câmera e cobertura jornalística.

É uma briga tão baixa e inescrupulosa, que só consegue gerar ruído e uma comunicação falha e exacerbada, que acaba por envergonhar quem realmente trabalha com isto de forma decente e com objetivos planejados.

Como diz o ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e sociólogo Rodrigo Pimentel, a postura das emissoras foi "irresponsável e criminosa". Em nenhum momento a polícia teve seu espaço preservado, muito menos as garotas e o próprio Lindemberg. Quiçá suas famílias. Mas quando o desfecho acaba em morte e com ações tomadas pela polícia que geram polêmica e dúvidas, elas são as primeiras a fazer suas críticas e apontar os erros, sem nem se preocuparem com o embasamento e propriedade do que disseram e do que fizeram antes.

São tão despreparadas que a primeira coisa a fazer é "transferir" a culpa. E a pergunta que fica é: porque a imprensa não foi até o fim e resgatou as garotas? Por que Sonia Abrão não vestiu o colete a prova de balas e invadiu o prédio, mas se deu ao luxo de entrevistar sem saber fazer negociações táticas e censurar o rapaz em plena rede nacional?

A resposta é simples, e o jornalista José Luiz Datena resume muito bem: "Jornalista não é negociador. Negociador é negociador". E ainda completa: "Na verdade, uma cobertura como essa serve pra todo mundo aprender: a polícia, a televisão, a imprensa". Tudo é uma questão de postura, onde muitos não souberam se portar como deveriam, devido à grande pressão causada pela mídia. E as críticas geradas por aqueles que não desgrudaram seus olhos da TV podem ser sintetizadas assim: o episódio combinou a morbidez do público com a exploração comercial dos veículos de comunicação.

Portanto, o que existe é um jogo de interesses, onde os empresários só pensam na audiência e nos lucros. Talvez seja o caso de pensar que se um empresário de comunicação optasse pelo prejuízo, a moça estaria salva. Fica a lição para todos de que este não é um caso atípico, de que muitas atrocidades acontecem a todos os instantes, mas que dedicar tempo em excesso num assunto gera pressão, gera morbidez, gera conflito de opiniões e ações, e principalmente, põe em xeque a vida de crianças.